O esforço de apoio às famílias ucranianas em curso em Rio Tinto, no concelho de Gondomar, recebeu contributos russos que, por vergonha, não se identificaram, mas deixaram bilhetes onde, entre outras mensagens, pediam desculpa pela invasão.
A revelação foi feita à Lusa pela presidente da Amizade – Associação de Imigrantes, Nataliya Khmil, ucraniana e coordenadora do projeto que já fez chegar à fronteira com a Polónia uma carrinha com mantimentos e que, nos próximos dias, regressará a Gondomar com refugiados.
Numa conversa à porta da sede, na cave do edifício da Junta de Freguesia de Rio Tinto, onde não paravam de chegar contributos, tornando mais exíguas as pequenas divisões, Nataliya Khmil confirmou que a solidariedade também tem expressão entre os russos.
“Sim. Recebemos contributos de famílias russas a residir em Portugal (…), mas só depois é que percebi quem os deixou. Eu não as vi. Elas deixaram recados [em papel]”, respondeu a responsável de uma interação que não deixou, ainda que feita de forma envergonhada, de enobrecer quem o fez.
Mas não foi tudo, continuou a dirigente a viver há 22 anos em Portugal: “Recebi vários telefonemas de pessoas a pedir desculpa em nome do povo russo. Logo na quinta-feira, no dia em que começou a guerra. Recebi um telefonema de um homem, que disse ser russo e que estava a chorar, a pedir ajuda para sair da Rússia. Não sei como conseguiu o meu contacto”.
Apesar de a família residir perto da fronteira com a Hungria e Eslováquia, “em Zakarpatska, na única zona do país, para já, que está pacífica”, ainda assim a guerra faz-se sentir, pois “ninguém trabalha nem as crianças têm escola ou infantário”, contou Nataliya.
Testemunhando não ter nenhum familiar na linha de combate, relata, no entanto, contactos de “muitos amigos [na Ucrânia] a ligar e a perguntar se têm possibilidades de os ajudar”.
“Amanhã deverá chegar a primeira carrinha que enviámos com produtos alimentares e virão seis ou sete pessoas, que ficarão alojadas em casa de familiares”, revelou a responsável.
As casas situadas na Maia e em Baguim do Monte, em Gondomar, serão o futuro próximo destas famílias, disse.
Oksana Yurchyshyn juntou-se na quinta-feira na ajuda, contando à Lusa que os avós e os tios estão em Ternopil, perto da fronteira com a Polónia.
“O meu tio voluntariou-se para proteger as fronteiras da cidade”, respondeu, precisando que aquela zona no oeste da Ucrânia permanece tranquila.
À questão como se gerem as emoções de os homens terem de abandonar a família para ir lutar, admitiu ser “complicado”, que o “primeiro dia, para eles, foi mais de tristeza”, mas que agora “sentem mais força e adrenalina, porque o importante é combater o inimigo e proteger a cidade”.
“O conhecimento que tenho dos meus amigos e familiares é que estão em constante stress, dormem vestidos e com uma mochila pronta para quando for necessário sair”, respondeu Oksana à pergunta se as rotinas, mesmo com a guerra aparentemente afastada, foram alteradas.
E com a “escassez de alimentos” a fazer-se sentir, algo que admitiu com emoção, é intenção dos seus familiares “engrossar a lista dos refugiados” caso Ternopil entre no mapa da invasão russa.
Depois te ter entregue o seu contributo na associação, Volodymyr, que está há 18 anos em Portugal e a família vive na região de Lviv, relatou que “um dos melhores amigos, que é polícia, está pronto para combater”, e um tio “está a defender uma base militar” naquela cidade.
“Na minha família ninguém pensa sair, estão motivados, são nacionalistas e patriotas pelo seu país, e querem a todo o custo defender a sua casa e a sua terra, no entanto, estão todos com muito medo sobre o que pode acontecer nas próximas semanas”, testemunhou.
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