Pedro F. Soares: candidato do BE
Setembro 16, 2025
Pedro Filipe Soares tem 46 anos, é matemático e político. Candidata-se à Câmara de Matosinhos pelo Bloco de Esquerda (BE). Toda a gente se habituou a vê-lo na Assembleia da República, na bancada do BE, que chegou a dirigir.
Agora, o que leva Pedro Filipe Soares a mudar deste plano nacional para o plano local? O candidato do BE à Câmara refere que nunca quis encarar a política como uma carreira e que a sua “atividade no Parlamento foi sempre vista como uma matéria temporária”, até porque é defensor da limitação de mandatos e da renovação de pessoas que estão nos lugares de eleição. Não saiu – em 2024 – da Assembleia zangado, mas também não considerou essa saída como “uma demissão da política e do contributo enquanto cidadão com atividade política.”
Recentemente mudou-se para Matosinhos, reconstruiu a casa do avô paterno e ficou ali a viver, contou nesta entrevista Pedro Filipe Soares (que pode ouvir no link abaixo do texto), assim, fazia “todo o sentido” ter este contributo na política local.
O BE apresenta candidaturas à Câmara Municipal, à Assembleia Municipal e a todas as 10 freguesias do concelho.
Questionado sobre o que o BE apresenta como diferenciador para Matosinhos, Pedro Filipe Soares declara que, “em primeiro lugar”, trata-se de “uma postura: nós temos como slogan, uma casa, uma causa e isso é a ilustração da nossa postura perante Matosinhos. É para melhorar Matosinhos que nos candidatamos”.
Por entre as prioridades, há uma que é “estrutural: a Habitação”. Pedro F. Soares entende que se devem apoiar as cooperativas de habitação, que foi uma atividade forte no concelho há décadas atrás, mas que entretanto ficou na gaveta.
“O Partido Socialista não as quis implementar, o PSD no governo tentou destruir até a estrutura jurídica das cooperativas e nós agora estamos a assistir ao resultado desse período de inatividade e de falta de ambição do investimento cooperativo”, recorda o candidato do BE.
De acordo com o bloquista, as soluções que estão a ser implementadas no âmbito da habitação social e com apoio do PRR são “parcas” no que respeita às necessidade da população: “estão identificadas 1.750 famílias com carência económica na habitação e a Câmara Municipal com este investimento apenas vai responder a 500 destas famílias e com os atrasos que são conhecidos”.
Mas há outros exemplos onde a política municipal está a falhar, segundo Pedro F. Soares, como por exemplo na recolha de resíduos.
No âmbito da “limpeza urbana, tivemos recentemente uma infestação de ratos, uma proliferação de baratas, no concelho, fruto da debilidade da limpeza urbana, coisa que não seria de esperar, e por isso há aqui um certo acomodar do executivo municipal”.
Um outro exemplo, a mobilidade. “Matosinhos tem problemas graves de transportes e isso é resultado da falta de afirmação da Câmara Municipal no que respeita à obrigação que a STCP e a UNIR têm para com o concelho. Muitas das vezes não são cumpridos os contratos a nível dos horários, das frequências”. Para além de, atualmente, haver paragens sem abrigos. “Porque a Câmara não cuidou em tempo útil de uma transição de empresas no que se refere à concessão das paragens”.
Pedro F. Soares sublinha que o executivo, quer a maioria PS quer a “oposição que está presente no executivo municipal, não estão a cuidar das coisas comezinhas do dia a dia. É que além de faltarem os abrigos, faltam até os bancos, então vemos que as pessoas vão às compras, estão com os sacos do supermercado e nem têm um sítio para os pousar, nem para se sentar”.
Pedro F. Soares prossegue para outras temáticas onde se nota a “perda de qualidade de vida”: a poluição na praia de Matosinhos. Há muito que se percebeu que a Ribeira da Riguinha é um dos focos de poluição da praia, por isso o candidato do BE questiona porque é que “só agora é que se diz que se vão identificar os poluidores?”
E constata: “Há, portanto, aqui vários exemplos em que a Câmara não cuidou do que é essencial.”
O candidato bloquista também considera que “a Câmara de Matosinhos ficou para trás no peso político”, explicando que é notório que “é o único concelho do país que tem pórticos em auto-estradas internas, como são os pórticos da A4. Isso é mais uma sobrecarga no concelho de Matosinhos. Está a falhar em questões estratégicas, pois não teve a ambição de querer mais, de exigir mais até do Poder Central”.
Aponta ainda a “questão do metro do Porto e das novas linhas. Só agora é que a Câmara Municipal está a dizer que quer a linha para Leça da Palmeira. Mas está, já há décadas, à espera da execução da linha de São Mamede. Esta linha era essencial para retirar a pressão rodoviária. A linha da Senhora da Hora e do São João fazia parte já do investimento inicial previsto para o metro do Porto. Ficou para trás”.
Para Pedro F. Soares é essencial retirar as portagens da A4, uma decisão que não depende da Câmara Municipal, mas que, “com o peso da Câmara e da área metropolitana, deveria ter sido tomada”. Houve aqui “falta de solidariedade metropolitana”, no entender do candidato.
Quisemos saber ainda a visão do BE e de Pedro F. Soares quanto à expansão do concelho nas áreas da antiga refinaria e nos terrenos junto à Exponor. O candidato considera que este é “um dos temas mais estratégicos para o concelho. Do ponto de vista da área, a zona da refinaria é maior do que a atual área edificada de Leça da Palmeira. A dimensão de uma nova cidade é o que está ali em causa. Isso está a acontecer, aparentemente, sem um pensamento estratégico da Câmara Municipal, que deveria estar inerente a algo tão relevante.”
Pedro F. Soares gostaria de ver a autarquia a definir as infraestruturas que ali vão ficar a apoiar a nova cidade, como unidades de saúde, escolas e vias de acesso…bem como a própria habitação, que o candidato bloquista considera que uma boa parte deveria ser destinada à classe trabalhadora, até porque já se espera que o privado que detém os terrenos irá preferir construção de luxo e habitação de “super luxo”.
Esta nova centralidade, segundo Pedro F. Soares, não deve ser um pretexto para construir “resorts dentro de um concelho, e daí quase privatizarmos essa área toda e ficar com um concelho à parte”.
Pode ouvir a entrevista aqui: