Bruno Bessa recandidata-se à JSD da Maia e faz um balanço do mandato em que procurou qualificar quadros
Escrito por admin em Agosto 24, 2020
Bruno Bessa tem 26 anos e está a terminar o mandato bienal como presidente da JSD Maia. Nasceu no Porto, mas sempre viveu na Maia. É recandidato a um segundo mandato e as eleições acontecerão a 11 de setembro.
É licenciado em Direito pela Faculdade de Direito do Porto e Mestre em Direito do Trabalho pela Universidade Católica. Desde 2018 que é advogado estagiário.
Bruno Bessa assumiu, em 2017, pela primeira vez, funções de dirigente na JSD Maia (secretário geral) e em 2018 foi eleito presidente da estrutura, um cargo que desempenha até aos dias de hoje. É também Conselheiro Nacional da Juventude Social-Democrata.
É líder da bancada da coligação Maia em Primeiro (PSD/CDS-PP) na Assembleia de Freguesia de Vila Nova de Telha. E em 2018 assumiu funções como vice-presidente da Associação Recreativa Vilanovense, em Vila Nova de Telha.
Nesta entrevista ao Primeira Mão, Bruno Bessa adianta que reuniu com a sua equipa, que continua coesa, e que, após ponderar as questões também da sua vida pessoal e profissional, decidiu que será recandidato, mas ainda não avança com dados sobre a equipa. Deverá ser um projeto de continuidade, mas por enquanto, a entrevista aborda o balanço destes últimos dois anos na política, feito pelo filtro ‘laranjinha’.
«Um partido sem ideologia é quase como um cão sem trela»
A JSD teve que se adaptar neste último ano à pandemia com novas formas de estar na política?
Esta candidatura inicial, em 2018, tinha 3 pilares fundamentais: a formação dos quadros políticos da JSD, a questão das campanhas pelas quais íamos passar (no caso as Europeias e as Legislativas) e tentar forçar um pouco a abertura da JSD e do próprio PSD também à sociedade civil. Hoje em dia, achamos que a sociedade civil e os partidos deixaram de andar de mãos dadas e isso só faz sentido se correspondermos aos anseios das pessoas, senão não estamos aqui a fazer nada.
Os “Maia Talks” e os “À conversa com” vêm nessa sequência de nos abrirmos a estrutura à sociedade civil e também formarmos e qualificarmos os nossos quadros políticos, que é uma das grandes bandeiras da JSD desde sempre, para criarmos políticas para um setor determinado, que neste caso é a juventude, e também para depois abrirmos a estrutura à sociedade civil e qualificar os nossos quadros. Esta foi a grande bandeira deste mandato, até porque era um mandato de eleições autárquicas.
O nosso concelho foi sempre o principal foco.
Quando chegou a Pandemia, tínhamos acabado de fazer a primeira ‘Maia Talks’. Foi sensivelmente em fevereiro e a ideia já seria entrar um pouco no digital, através de gravação. Andámos aqui e ali a otimizar meios para tornar isso real, mas depois chegou a Pandemia e tivemos de fazer as ‘Maia Talks’ em formato ‘Live’ (em direto).
A partir daí, adaptamos facilmente, foi só mais uma palavrinha à frente (‘Maia Talks Live’).
Durante a Pandemia, fizemos cinco edições no total. A primeira ‘live’ foi logo uma análise à Pandemia, em que convidamos uma pessoa com quem andamos a fazer campanha, a deputada Márcia Passos e o vereador Paulo Ramalho.
Também já tínhamos estado à conversa com o Pedro Cruz, na Escola Príncipe da Beira, a falar sobre as ‘Fake News’. Ele é um apaixonado por política e acabou por existir ali uma “rampa deslizante” levando-nos a falar muito sobre isso. Foi uma das pessoas que mais gostei de ter cá, não só por conhecer o Pedro há alguns anos, mas porque ele até foi das pessoas mais “ácidas” com o PSD e a sua liderança, não localmente mas a nível nacional. Fez-nos sair da zona de conforto e, se não acontecer isso, ficamos todos numa bolha, é a mesma coisa de sempre. Também por isso, trouxemos pessoas de outros partidos.
Tentámos cobrir áreas que achávamos interessantes, porque a ideia é dar este conhecimento aos quadros da JSD. Estamos sempre a falar de possíveis líderes no futuro: possíveis representantes, seja na sua freguesia ou no município, seja no país. Acho que esse é um papel importante.
E as estruturas partidárias, especialmente as juvenis devem servir para isso. Nas outras é mais difícil apostar tanto na qualificação, porque as pessoas já chegam numa idade mais avançada, com menos disponibilidade.
Em relação ao mandato que agora termina, considera que a equipa conseguiu fazer a diferença?
Sim. Apresentámos um manifesto com algumas medidas concretas, outras de um ponto de vista mais geral dos vetores que queríamos implementar e, sem dúvida, que é muito positivo.
Concretizámos um sem número de atividades, mas nem foi pela quantidade. Por exemplo, realizámos as atividades que consideramos essenciais, sendo que a forma como as colocámos em marcha fez com que isso fosse uma coisa muito constante, muito aperfeiçoada e isso trouxe algum nível e qualidade às atividades.
Realizamos as “Sedes Abertas”, as “À conversa com”, que depois se converteram nas ‘Maia Talks’, para darmos uma espécie de carimbo próprio da JSD.
Esta conversa é da Maia. Uma conversa da Maia, com a Maia e para a Maia, com as pessoas da Maia e quem quiser aparecer é sempre bem-vindo. Aí também começamos a descentralizá-las, a sair da sede, fomos ao Fórum Jovem da Maia e à Quinta da Gruta.
«A política não se faz em salas de tribunais, faz-se em salas da política»
Conseguiram agregar mais jovens para o movimento?
O balanço é positivo. Conseguimos uma boa adesão de pessoas à estrutura. Não estamos a falar de centenas de pessoas, mas foi positivo. E esse também foi um trabalho de passar a palavra, de discutir política, de agregar valor.
Estamos na social-democracia e tem de haver igualdade na partida e à chegada, igualdade de armas e depois o mérito. Um partido sem ideologia é quase como um cão sem trela, não sabe muito bem para onde vai.
A ideologia é aquilo que nos guia, é o que nos dita as nossas balizas.
Sim, tivemos jovens a entrar para a estrutura, que participam ativamente, porque também tive esse princípio durante todo o mandato: apesar de existir uma comissão política eleita, existe uma equipa pronta a trabalhar, que se responsabiliza e tem os méritos no final. Pode dar certo ou não, mas trabalhamos sempre com o objetivo de alcançarmos algo de bom, mas não controlamos tudo.
E agora é cada vez mais difícil com a exposição nas redes sociais…
Por vezes, basta um comentário ou uma frase para sermos mal interpretados e se criar um problema, embora tentemos ter sempre esse cuidado. Já tivemos momentos difíceis, também não é segredo que tivemos de fazer alguns comunicados, por vezes, na defesa do nosso Executivo Municipal, defender os nossos autarcas que foram eleitos por nós, pelo PSD e JSD, porque andámos com eles na rua.
Tudo porque sentíamos que havia um exagero no modo da oposição fazer política, que não é aquele que defendemos.
A política não se faz em salas de tribunais, faz-se nas salas da política. E aí houve um exagero claro…acho que todos os maiatos perceberam isso. À justiça o que é da justiça e à política o que é da política.
Quando tivermos de falar, falaremos, como falamos, e não pediremos licença a ninguém. Umas vezes com o PSD, outras vezes sozinhos. E quero sublinhar essa ideia – houve uma colaboração muito boa com o PSD Maia, presidido pelo Hernâni Ribeiro, ele que também foi um presidente da JSD. Foi sempre muito colaborante e participativo nas nossas atividades e acho que assim é que faz sentido.
Apesar de não termos independência financeira, nem de meios, temos autonomia de pensamento e ação.
Eu não gosto de estruturas juvenis que são caixas de ressonância do partido: pode ser confortável às vezes e até mais fácil de ascender, mas não é a mais correta, porque não estamos a acrescentar valor.
Pensa que neste mandato conseguiu que a JSD se afirmasse como uma estrutura, ganhasse mais credibilidade e fosse vista pelo PSD como um interlocutor privilegiado?
Penso que sim. O nosso foco são os jovens, mas a par disso, houve muitas pessoas que vieram ter connosco, reconhecendo alguns problemas aqui ou acolá, pedindo para sermos interlocutores e para falarmos de questões relacionadas com o concelho e freguesias.
Hoje, também temos essa vantagem de estar mais presentes nas redes sociais e as pessoas sentem isso, até porque as redes são frequentadas por quase toda a gente, muito mais do que o partido. Conseguimos ter uma presença mais ativa, conseguimos responder na hora, estar mais perto das pessoas.
Há a desvantagem de sermos vistos como os “miúdos”. E nesses casos, não conseguimos desconstruir esse discurso com palavras, temos de fazê-lo com ações. É por isso que começamos a mostrar propostas políticas, a reunir com os executivos de freguesia, com o executivo municipal e seus vereadores: a discutir os temas, a falar com eles, a apresentar propostas e soluções concretas para o executivo.
E às vezes, dada a relação algo próxima com o executivo municipal, nem precisamos de fazer propostas formais, basta enviar uma mensagem com sugestões. Muitas delas são aceites e assim já acrescentamos valor.
Temos de agir e demonstrar: fazer atividades com competência. Hoje, tenho a certeza que os maiatos reconhecem à JSD Maia a capacidade e reconhecimento de alguém que pensa diferente: mais jovem, mais irreverente, com ideias novas para o concelho e não apenas “miúdos”, que andam à procura de um lugar numa lista, algo que abomino em oposição ao que defendo, que é a cultura do mérito.
Enquanto estiver numa estrutura e tiver uma maior responsabilidade que os outros, terei de ser sempre quem trabalha mais. Se houver algum dia em que alguém trabalhe mais, teremos de repensar as coisas e avaliar com humildade se estou a acrescentar valor ou não. Porque tudo é cíclico, na política é igual.
É importante conhecer o mundo e a política lá fora e daí a importância de termos quadros novos a entrar na JSD. Temos uma crise muito grande de quadros sub23 na JSD, quer na Maia, quer no Porto.
Como é que eu com 25 ou 26 anos consigo representar alguém da minha geração, mas que ainda tem 18? Se eles não me disserem do que precisam, não conseguirei responder aos seus anseios.
O vosso conhecimento através das reuniões com os executivos das freguesias possibilitou-vos apresentar melhores propostas para a política de juventude na Maia?
Sim. Foram fundamentais essas visitas, ainda que interrompidas com a Pandemia. A última agendada era com a presidente de Milheirós, mas teve de ser adiada. Mas fomos a quase todas, tendo conseguido perceber melhor as realidades e as políticas de juventude de cada freguesia.
Reconhecemos que é onde é mais difícil criá-las, porque não existem meios para criar políticas com a dimensão que os jovens pretendem.
Em Vila Nova da Telha, por exemplo, o presidente da Junta disse-nos que organizou um Festival de Rock e não teve a adesão que esperava. Ele achou que os jovens iam adorar um festival de rock, mas se calhar hoje em dia os jovens já não estão tão virados para o rock, preferindo provavelmente conversas com youtubers ou um campeonato de videojogos.
O digital não é futuro, é o agora.
Penso que o PSD terá a capacidade de fazer essa leitura no futuro e a juventude que se encontra nos próprios executivos dará esse conhecimento de que o mundo já não é o mesmo. Eu entrei para a JSD no início de 2014 e passaram seis anos e é tudo diferente.
Por força da Pandemia, também temos um tempo de reinvenção. Temos em breve novas campanhas eleitorais e temos de perceber como fazê-las.
Há muito que se fala que o método das campanhas eleitorais tem de mudar, mas há resistência em mudar…
Talvez pelo comodismo. E depois temos aquela variável que é “os que menos votam são os jovens, os que mais votam são os velhos. Para chegar aos mais novos devem ser usadas as redes sociais e novas tecnologias de informação, mas esse método deixa de fora os mais velhos. Como é suposto estar perto dos velhos sem poder vir para a rua? Isso vai ser um grande desafio”.
«Não acredito que um jovem não tenha ideias para o seu concelho»
No início do mandato, notou alguma dificuldade para chamar os jovens para a participação na política?
Sim. Quando entrei, já existia esse afastamento. No entanto, tem-se vindo a agudizar e isso é uma reflexão que gosto de fazer internamente e gosto que a JSD também o reconheça, ou seja: o número de quadros da estrutura tem vindo a descer.
Acredito que temos bons quadros na mesma, mas há esse afastamento, pois os jovens têm outras formas de participar ativamente na sociedade: seja a fazer voluntariado – nós até fomos visitar a Refood e fizemos com eles uma campanha de recolha de bens – seja em outro tipo de associações, onde participam junto das suas coletividades, mais perto das suas casas, seja ainda no desporto.
Por outro lado, o tipo de vida que hoje temos não nos permite ter muitas solicitações. Temos uma vida com muito ócio, temos tempo e temos muitas coisas que nos permitem fazer algo mais engraçado ou fácil no momento, como ir ao cinema ou à praia com os amigos, do que se calhar estar numa sede a fazer um manifesto político ou a pensar numa proposta política para o município.
Mais tarde, vamos dizer que falta isto ou aquilo, mas conseguir trazer os jovens e metê-los a trabalhar nisso (política) é uma missão difícil.
Esta abertura à sociedade civil e aos jovens de que falo, também foi nesse sentido, o de tentar puxá-los e mostrar que cá dentro também temos partes divertidas, que somos jovens normais e que vamos sair à noite como outros quaisquer e que, no fim do trabalho, também há lugar para o ócio, mas tentamos é priorizar as coisas.
Quer transmitir que não chega exercer o direito de voto (algo que cada vez é mais raro, pois a abstenção tem vindo a aumentar muito), mas que deve haver uma participação mais ativa na política?
Sim e ainda por cima na nossa idade em que a abstenção se faz sentir mais. Ainda recentemente, vi um estudo que demonstrava precisamente isso. Entre os 18 e os 30 anos, a taxa de participação na votação situa-se entre os 20 ou 30%, enquanto nas faixas etárias mais avançadas, dos 60 para cima, está entre os 70 e os 80%. E isso leva-nos à ideia de que estamos a corresponder às expectativas dos jovens.
Eu não acredito que um jovem não tenha ideias para o seu concelho, ou que não ache que existam coisas melhores ou piores e que precisem de ser melhoradas.
Não será também pelo descrédito perante políticos e partidos?
Apesar de ser uma pessoa positiva, esse deixar andar também vem da erosão destes partidos políticos que temos. É uma realidade.
Nós vemos claramente que vão saindo alguns escândalos na comunicação social, vamos conhecendo coisas e comportamentos dos governantes que não foram corretos, o que provoca este afastamento e descrédito na política.
Mas é participando, indo realmente para o terreno com as nossas ideias que se tenta mudar, porque fazer política é uma das coisas mais naturais e normais numa pessoa.
Às vezes parece transcendente, mas não é. É apresentar uma ideia para um tema qualquer, é discutir um assunto. Podemos fazer política num café, podemos sentar-nos à mesa. Mesmo na JSD, já disse que, por vezes, nos podemos reunir num café, numa esplanada, desde que estejamos a trabalhar…
Será que falta essa proximidade da parte dos políticos à sociedade? Geralmente as reuniões são muito formais…
Falta. As reuniões são formais e eu próprio, no dia a dia, sentia isso. Eu não vim de dentro do partido, nada contra quem vem, mas eu vim de fora. Estava a estudar Ciência Política e, na altura, achei que a Social-Democracia era aquilo onde me encaixava mais e procurei algo que correspondesse: o PSD e a JSD foram aqueles que mais satisfizeram essas premissas.
Quando entrei na JSD, senti que era uma coisa fechada, já estava lá um grupo feito e para entrar há sempre alguma resistência, pois alguém de fora vem abanar com a estabilidade existente.
Por isso é que durante este mandato, fizemos um dia chamado “A sede é tua” e publicámos nas redes sociais, veículo de comunicação predileto para nós, que a sede estava aberta para qualquer jovem que quisesse lá entrar.
De facto, há essa realidade dos partidos viverem numa espécie de bolha, são aparelhos fechados e, enquanto isto continuar, a erosão vai aumentando.
Além disso a falta de participação não existe apenas nas eleições, mas também nos partidos e quando isso acontece, torna-se numa espiral.
Verifica-se na instabilidade do partido e até do sistema político e depois até da democracia, já que tendem a surgir discursos populistas, que até fazem sentido na cabeça de algumas pessoas.
Reconhecer o problema é um ponto de partida, mas é difícil. Depois, é preciso encontrar soluções.